O Eclipse vai bem, obrigado

Márcio d'Ávila, 28 de fevereiro de 2005. Revisão 5, 10 de junho de 2006.
Categoria: Programação: Java: Ferramentas: IDE

Os desenvolvedores na tecnologia Java contam com diversas boas opções de software para ambiente de desenvolvimento integrado (IDE - integrated development environment), que vão do simples ao sofisticado, do gratuito ao caríssimo. Em meio a tantas opções, a ferramenta de desenvolvimento Java mais popular, há algum tempo, tem sido o projeto open source Eclipse.

Alavancado pela IBM, que o utiliza como base na construção de suas ferramentas comerciais para desenvolvimento Java na família de produtos IBM Rational para projeto e desenvolvimento, o Eclipse ganhou popularidade e força rapidamente na comunidade de desenvolvedores Java por diversos motivos, em especial os seguintes:

Como o Eclipse é um ambiente de desenvolvimento aberto, o seu uso efetivo em produção corporativa requer agregar plug-ins para tecnologias Java especializadas, principalmente para a plataforma J2EE. Dentre estas tecnologias, podemos citar o desenvolviento Web, Enterprise JavaBeans (EJB), interfaces gráficas desktop, XDoclet, Hibernate, Spring etc. Entram também na lista de plug-ins (próprios ou de terceiros) as ferramentas de integração e apoio ao desenvolvimento, como criação de diagramas UML e acesso a recursos em servidores de bancos de dados. A própria Fundação Eclipse é segmentada em projetos visando prover componentes estruturais ou ferramentas para várias destas finalidades. Também existem muitos plug-ins gratuitos e comerciais para o Eclipse desenvolvidos por terceiros.

A diversidade de opções propicia total liberdade de escolha e flexibilidade ao agregar plug-ins para atender necessidades específicas no desenvolvimento com Eclipse. Por outro lado, isto pode ser fonte de aborrecimentos e confusão para se montar um ambiente suficientemente completo, integrado e produtivo baseado no Eclipse, em especial para empresas que querem escolher um IDE e começar rapidamente o desenvolvimento J2EE em larga escala.

A iniciativa Callisto, que marcou a liberação oficial do Eclipse 3.2 em 30 de junho de 2006, significa o lançamento simultâneo e coordenado de dez principais projetos membros do Eclipse, objetivando plena compatibilidade entre estes e sua integração facilitada ao Eclipse IDE.

Existem diversos produtos comerciais baseados no Eclipse, agregando plug-ins proprietários com ferramentas avançadas para maior produtividade, uso profissional em ambiente corporativo e maior integração com tecnologias e produtos dos fornecedores. Dentre estes ambientes, um dos mais econômicos é o MyEclipse Enterprise Workbench, fornecido com um serviço de assinatura anual. Grandes fornecedores também oferecem famílias de produtos comerciais baseados no Eclipse, voltadas para o ambiente corporativo: IBM Rational, Borland JBuilder (versão 2007 em diante), BEA Workshop.

No mundo dos IDEs Java open source, há apenas outro grande participante no mercado: o NetBeans, projeto apoiado pela própria Sun Microsystems. A Sun oferece a distribuição do NetBeans junto com os seus JDKs e o utiliza como base para suas ferramentas corporativas Sun Java Studio Creator e Enterprise. Além disso, a distribuição padrão do NetBeans inclui mais recursos que o Eclipse básico (fora plug-ins de terceiros), incluindo boas ferramentas para desenvolvimento de interfaces gráficas (GUI/Swing) e projetos J2EE Web e EJB, o que facilita para quem está começando. No final de novembro de 2005, a Sun passou a disponibilizar gratuitamente download e licenciamento dos IDEs Sun Java Studio Creator e Enterprise, através da Sun Developer Network (SDN).

No plano corporativo, a ferramenta com maior “tradição” no mercado é o Borland JBuilder, que além da versão comercial topo-de-linha Enterprise, oferece uma versão simplificada gratuita, o JBuilder Foundation. A Borland atualmente compete com a IBM Rational no campo dos ambientes mais completos e abrangentes para a Tecnologia Java, bem como processos de projeto e desenvolvimento de software como um todo. Tem também destaque e uma legião de usuários fervorosos a ferramenta IntelliJ IDEA, que antes do Eclipse detinha foco freqüente de elogios nos quesitos produtividade e inovação.

Outro bom IDE corporativo é o Oracle JDeveloper, que partiu de uma antiga versão licenciada do próprio JBuilder e desde então evoluiu de forma independente e foi integrado com o servidores da Oracle e seus frameworks como ADF, TopLink e SQLJ. Desde junho de 2005, Oracle ADF e TopLink não são mais licenciados em conjunto com o JDeveloper, mas sim à parte ou com o Oracle Application Server. Com isso, a Oracle passou a oferecer o JDeveloper gratuito para todos os desenvolvedores, segundo anunciou no evento JavaOne 2005, visando popularizar seu IDE e o desenvolvimento em Arquitetura Orientada a Serviços — Service-Oriented Architecture (SOA).

Perguntar qual IDE é o melhor costuma levantar um mar de discussões acaloradas e intermináveis, entre argumentos técnicos e defesas apaixonadas, a favor ou contra os ambientes já citados, entre outros mais. Como referência de algumas boas discussões com andamento recente, veja JavaRanch: Best IDE e TheServerSide: Whats the best IDE to use. Um artigo por Gary Litvin apresenta uma sensata consideração: “não há IDE que seja o melhor para todos e para tudo”. A escolha depende da necessidade, do contexto, de adequação individual. Naquele artigo, o autor aponta uma abordagem minimalista na escolha de IDE para uso educacional e iniciante: o JCreator — que possui uma Edição Lite (LE) gratuita — é compacto e ágil, pois diferente dos IDEs mais completos e pesados que são eles próprios escritos em Java, o JCreator é escrito em C++ para Windows. É fácil de usar, ao mesmo tempo que apresenta auxílios úteis para escrita de programas Java como coloração de sintaxe e outros recursos de edição, bem como integração com utilitários do JDK para compiliação e execução de projetos Java.

Contudo, na votação anual do conceituado Java Developer's Journal JDJ Readers' Choice 2004/2005, o Eclipse apresentou destaque no conjunto de categorias como “Melhor Ambiente Java IDE”, “Ferramenta de Depuração”, “Ferramenta de Desenvolvimento em Equipe”, “Produto Java Mais Inovador”. O Eclipse tinha sido finalista no JDJ Readers' Choice 2003/2004 para “Melhor IDE Java” onde ganhou o JBuilder, e “Produto Java Mais Inovador” onde ganhou o IntelliJ IDEA. No concurso Developer.com Product of the Year 2005, o Eclipse foi campeão na categoria “Ferramenta de Desenvolvimento do Ano”. E na premiação SD Jolt Awards feita pela revista Software Development — tendo dezenas de gurus em tecnologia como juízes —, em 2004 e 2005 o Eclipse foi o campeão da categoria “Ambiente de Desenvolvimento”, que já teve o IntelliJ IDEA como premiado e, em anos anteriores, o JBuilder.

Análises e comparativos de IDEs Java feitas por revistas e portais especializados em Java e tecnologia de desenvolvimento de software também são boa fonte de subsídios para a escolha de um IDE. Veja algumas referências em Java IDE: Comparativos.

Em 22 de fevereiro de 2005, BEA e Sybase se juntaram à Fundação Eclipse como membros “Desenvolvedor Estratégico”. A BEA inclusive se ofereceu e foi aceita por eleição como nova líder do projeto Web Tools Platform (WTP), que desenvolve ferramentas para o desenvolvimento J2EE Web no Eclipse. A BEA também promete convergir a futura versão da ferramenta de desenvolvimento BEA Workshop, codinome “Daybreak”, para o Eclipse.

Portanto, os desenvolvedores dos três principais servidores de aplicação J2EE da atualidade abraçam o Eclipse como base de suas ferramentas de desenvolvimento: a IBM com o servidor WebSphere, a BEA com seu WebLogic, e o JBoss Group, desenvolvedores do renomado e popular servidor J2EE de código aberto JBoss AS. O JBoss, ao invés de oferecer uma ferramenta integrada própria como os outros dois, mantém o projeto JBoss Eclipse IDE que visa prover total integração ao Eclipse pelo mecanismo de plug-in.

Some-se a eles a Borland, que em 31 maio de 2005 anunciou o novo planejamento do JBuilder como ambiente de desenvolvimento baseado no Eclipse. Depois do JBuilder 2006, a Borland vai deixar de desenvolver o IDE baseado em sua plataforma-base proprietária PrimeTime, e passará a tomar como núcleo a Plataforma Eclipse, assim como faz a IBM. O codinome do novo JBuilder baseado em Eclipse é “Peloton”, com lançamento planejado ainda para 2006. A previsão inicial foi para o primeiro semestre, conforme press release do Borland JBuilder 2006 e JBuilder 2006 FAQ (PDF). Em maio de 2006, a Borland anunciou o Roadmap do JBuilder para os próximos três anos, divulgando que JBuilder 2007 (“Peloton”) tem lançamento esperado para o último trimestre (Q4) de 2006.

Não se pode deixar de notar também o esforço da Sun e da Oracle em popularizar suas ferramentas Java e, talvez, fazer frente ao grande crescimento da ferramenta livre Eclipse, ao oferecerem seus IDEs comerciais gratuitamente para desenvolvedores.


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